
O fenômeno do delivery de alimentos é um reflexo direto da crescente digitalização dos serviços e das mudanças nos hábitos de consumo em todo o mundo. Desde a popularização dos smartphones e o acesso mais fácil à internet, o mercado de entregas de alimentos tem se expandido a passos largos, ganhando relevância não apenas em grandes metrópoles, mas também em cidades de médio e pequeno porte. O mercado global do setor já movimenta centenas de bilhões de dólares por ano, com previsões de crescimento contínuo até 2030. Em 2024, o mercado global atingiu US$380 bilhões, e estima-se que esse valor ultrapasse os US$600 bilhões até 2030 – um crescimento médio anual em torno de 9% entre 2025 e 2030. Os maiores mercados, como a China e os Estados Unidos, lideram essa transformação, sendo responsáveis pela maior parte do volume financeiro e inovação tecnológica.
O Brasil, embora represente uma fração menor desse mercado global (próximo ao 8º lugar no ranking), ocupa um lugar simbólico significativo no cenário mundial. Não apenas pela sua crescente base de consumidores — mais de 210 milhões de habitantes e um mercado digital em expansão —, mas também pela diversidade cultural e gastronômica que torna o mercado de delivery brasileiro um ambiente único. Apesar de não ser o líder global em termos de valor monetário do mercado, sua relevância no setor não deve ser subestimada, já que representa um modelo de mercado emergente com grande potencial de crescimento, influenciado por uma cultura dinâmica e adaptável às novas tecnologias.
O Panorama Global de Delivery de Alimentos
A história do setor é marcada por transformações rápidas, que refletem mudanças profundas nas necessidades dos consumidores e nas capacidades logísticas das empresas. No início, a entrega de alimentos era restrita a alguns mercados e a serviços tradicionais, como pizzarias e restaurantes locais. No entanto, com o avanço da internet e suas tecnologias, o modelo de delivery se expandiu, atingindo uma gama muito maior de consumidores e estabelecimentos.
Nos Estados Unidos, empresas como Domino’s Pizza foram pioneiras, oferecendo entrega de pizza via telefone, algo que se expandiu com a criação de plataformas online e aplicativos. No Brasil a tendência foi a mesma, com o início da atividade marcado por empresas locais e grandes marcas (como Domino’s e MC Donald’s), mais tarde englobando mais consumidores, devido às plataformas de delivery de alimentos – principalmente o IFood. Na Ásia, empresas como Meituan e Grab se destacaram pela capacidade de integrar uma vasta gama de serviços (não só de entrega) um único aplicativo, popularizando o conceito de superapp e promovendo uma verdadeira revolução no setor. A Ele.Me, da Alibaba, também se destaca no mercado chines, ocupando o segundo lugar das plataformas no país e controlando, junto com a Meituan, cerca de 90% do mercado chinês.
Foi uma mudança muito rápida no consumo. O mercado global passou a perceber as entregas não apenas como uma opção de conveniência, mas como uma verdadeira necessidade para uma sociedade mais dinâmica e conectada. Aos poucos os App’s descentralizaram a operação e permitiram que qualquer restaurante se conectasse aos consumidores de forma rápida e eficiente.

A pandemia de COVID-19, que afetou o mundo inteiro, acelerou ainda mais esse movimento. O lockdown e as medidas de distanciamento social fizeram com que as pessoas passassem a recorrer a serviços de entrega de alimentos como nunca antes, e o Brasil foi um reflexo claro desta transformação. Segundo dados da ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o mercado de delivery no Brasil cresceu 50% em 2020, com um grande aumento na demanda por comida em casa, um fenômeno que foi global. Em países como Estados Unidos, Reino Unido e China, a busca por opções de comida rápida e entrega sem sair de casa disparou. As plataformas se tornaram essenciais durante os meses mais críticos da pandemia, e a digitalização, então, não era mais uma opção, mas uma exigência para os negócios.
Após o pico da pandemia, o setor passou por um período de adaptação, e o novo modelo de consumo não mostrou sinais de desaceleração. Pelo contrário, esse novo comportamento do consumidor, mais voltado para o consumo digital, parece estar consolidado. Além disso, a inteligência artificial (IA) e os avanços tecnológicos começaram a influenciar de maneira significativa o mercado. A IA está sendo utilizada para otimizar a roteirização de entregas, prever comportamentos de consumo e até melhorar a experiência do cliente, tornando a entrega ainda mais ágil e eficiente. O uso de drones, veículos autônomos e robôs de entrega já está sendo testado em algumas partes do mundo e se mostra promissor para o futuro do setor.
O que se vê agora é um movimento contínuo de inovação, com plataformas adaptando-se cada vez mais às novas exigências dos consumidores e às inovações tecnológicas. O mercado de delivery de alimentos, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, está em um processo de transformação digital que visa melhorar a experiência do usuário, otimizar os processos logísticos e garantir um serviço mais eficiente. Esse movimento de digitalização e automação promete ser o futuro mercado de entregas, com tecnologias cada vez mais presentes, e com a inteligência artificial liderando a transformação.
A Expansão de Gigantes Globais e as Tendências Emergentes
Na Europa, por exemplo, plataformas como Delivery Hero e Just Eat Takeaway dominam o mercado de delivery. Após uma série de fusões e aquisições, essas empresas consolidaram o setor, tornando-se players globais com forte presença local em diversos países. No Reino Unido, por exemplo, Just Eat (adquirida pela Prosus em Fevereiro) lidera o mercado (45% de market share), enquanto na Espanha, Delivery Hero, por meio da Glovo (adquirida em 2022), detém a maior parte do mercado (41%, seguido pela Just Eat com 39%). Diante dessa competitividade, a guerra de comissões e a pressão para reduzir custos de operação são uma constante.
A regulação trabalhista tem sido um tema crescente: em vários países europeus, plataformas como Uber Eats e Deliveroo foram obrigadas a ajustar seu modelo de negócios, como é o caso da França, Reino Unido e Espanha. A regulação exige que o entregador seja considerado empregado da empresa, garantindo benefícios e direitos trabalhistas, como um salário mínimo. No Brasil, embora ainda não haja uma legislação específica consolidada, debates e projetos de lei buscam equilibrar a proteção dos entregadores com a flexibilidade do trabalho nas plataformas, acompanhados de manifestações de grupos de entregadores, que buscam por uma condição melhor. O que pode-se concluir é que os caminhos e prazos variam conforme o contexto regional.

Nos Estados Unidos, o mercado é dominado por gigantes como DoorDash e Uber Eats, que se estendem também ao Canadá e parte da Europa. A DoorDash, por exemplo, gastou mais de US$5 bilhões em aquisições nos últimos meses, adquirindo empresas como Deliveroo e a plataforma de hospitalidade SevenRooms. O foco da DoorDash tem sido aumentar sua presença global, mas também buscar diversificação, oferecendo não apenas delivery de alimentos, mas uma gama de serviços que incluem entrega de mercado, farmácias e até produtos de conveniência. O modelo de superapp está se tornando uma tendência comum: plataformas que oferecem uma gama de produtos além da comida, como transporte, pagamentos e outros serviços.
No Sudeste Asiático, empresas como Grab e Meituan estão moldando um mercado competitivo com uma vasta gama de serviços. A Meituan, maior plataforma de delivery da China (e do mundo), foi uma das pioneiras no conceito de “superapp”, oferecendo uma variedade de serviços, desde entrega de alimentos até reservas de hotéis. Sua expressão na Ásia tem sido um exemplo de como as plataformas podem se diversificar rapidamente e conquistar mercados emergentes com grandes populações.
Players que Moldam o Mercado Global de Delivery
A expansão e desenvolvimento das entregas de alimento ao redor do mundo não seguiu um único caminho. As plataformas líderes em cada região responderam a dinâmicas econômicas, culturais e regulatórias específicas — e suas trajetórias refletem tanto os diferentes modelos de negócio adotados quanto a velocidade de digitalização do consumo local. Conhecer esses principais players ajuda a entender o cenário competitivo global e as direções estratégicas que influenciam o avanço da categoria como um todo.
- Uber Eats – Serviço de delivery mais amplamente disponível no mundo, com presença em seis continentes.
- Just Eat Takeaway – Resultante da fusão da britânica Just Eat com a holandesa Takeaway, recentemente comprada pela Prosus. Líder no Reino Unido, com atuação consolidada também na Europa (com o app Lieferando), Canadá ( com a SkipTheDishes) e na Austrália (com a subsidiada Menulog).
- DoorDash – Atual líder nos Estados Unidos e pioneiro do modelo plataforma-para-consumidor (P2C).
- Deliveroo – Um dos primeiros a operar no Reino Unido, com presença em 13 países.
- Delivery Hero – Controla diversas marcas (Glovo, Foodpanda, Talabat, PedidosYa, Hugo, HungerStation, Yemeksepeti) e opera em mais de 40 países ao redor do mundo.
- Ele.me – Aplicativo de delivery da Alibaba, ocupa o segundo lugar no mercado chinês.
- Meituan – Maior plataforma de delivery do mundo em receita, volume de pedidos e número de usuários, com mais de 600 milhões de contas ativas. Expandiu internacionalmente com a marca Keeta, presente em Hong Kong e Arábia Saudita
- Rappi – Presente em nove países da América do Sul, com forte investimento em expansão e superapp.
- iFood – Líder absoluto no Brasil, responsável por mais de 70% dos pedidos de comida no país. Parcialmente controlada pela Prosus.
- Zomato – Plataforma mais popular da Índia, absorveu as operações do Uber Eats no país em 2020.
- GrabFood – Vertente do Superapp da Grab, atuante no Sudeste Asiático, incluindo países como Singapura, Indonésia, Malásia e Vietnã.
Esse conjunto de plataformas ilustra o alcance e a complexidade do mercado global de delivery. Cada uma delas opera sob lógicas específicas de consumo, regulação e infraestrutura, o que contribui para a diversidade de soluções e modelos adotados. Ao observar esse cenário, torna-se evidente como o Brasil, com sua escala e comportamento digital acelerado, se posiciona como um terreno fértil para a atuação e o interesse desses grandes players.
O Brasil: Uma Vitrine de Oportunidades para os Players Globais
O Brasil é, sem dúvida, um dos mercados mais atrativos no cenário global de delivery. Com uma população de mais de 220 milhões de pessoas e uma crescente classe média urbana, o Brasil apresenta um enorme potencial de consumo, especialmente nas grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, onde a demanda por serviços rápidos e convenientes de entrega é cada vez maior. Estima-se que, até 2025, o mercado de entrega de alimentos no Brasil atinja US$22,5 bilhões, representando um crescimento robusto comparado a mercados mais maduros.
O iFood, líder de mercado no Brasil, tem um domínio significativo no segmento, com mais de 55 milhões de usuários ativos. Apesar de sua liderança, a competição tem aumentado. Empresas como Rappi, 99Food e agora Meituan estão tentando capturar fatias de mercado, forçando o iFood a inovar constantemente. Isso reflete uma tendência que também é observada globalmente: a pressão sobre as plataformas para reduzir taxas e melhorar as condições para os restaurantes.
O mercado de delivery de alimentos no Brasil vai, inclusive, além das plataformas de grandes players globais. Novos investimentos estrangeiros estão trazendo mudanças para o mercado local, como é o caso da Mixue – uma gigante chinesa que opera 45 mil lojas ao redor do mundo, superando até mesmo redes tradicionais como McDonald’s. Considerada a maior rede de fast food do mundo, a Mixue está se expandindo para o Brasil com um investimento de R$ 3,2 bilhões e com a projeção de gerar até 25 mil empregos até 2030.
Conclusão: O Futuro do Mercado de Delivery no Brasil e no Mundo
À medida que o mercado de delivery de alimentos continua a se expandir globalmente, o Brasil se posiciona como um exemplo evidente do que está por vir em outras regiões emergentes, ao redor do Mundo. O país vive um processo de transformação acelerado, com empresas de grande porte investindo em seu mercado interno. É um cenário quase que previsível, onde o crescimento de players globais e o aumento da competição são apenas reflexos do que acontece em mercados mais maduros ao redor do mundo. A pressão por modelos de negócios mais eficientes e taxas de comissão mais justas é uma tendência global, e o Brasil está se beneficiando de uma competição saudável entre plataformas que se traduz em melhores condições para restaurantes e consumidores.
Além disso, o ingresso de novos players internacionais como a Meituan e de gigantes do fastfood como a Mixue não apenas aumenta a competição, mas também traz novas oportunidades para o mercado local, estimulando a inovação e criando uma dinâmica de preços acessíveis e serviços diversificados. O Brasil, com sua demografia jovem e um mercado de consumo crescente, continua sendo uma vitrine para o futuro do delivery, onde tendências globais, como a automação das entregas e a expansão de superapps, provavelmente serão rapidamente adaptadas e implementadas.
No final das contas, o mercado de entregas de alimentos no Brasil não é apenas uma janela para o futuro, mas um espaço dinâmico que está moldando o que será o delivery nos próximos anos. A chave para os restaurantes será saber adaptar-se rapidamente às mudanças, aproveitando as novas oportunidades de parcerias estratégicas, tecnologias de logística inteligente e a crescente demanda por conveniência dos consumidores.
O mercado está em constante evolução, e a Pick n Go, com sua expertise em tecnologia de gestão de entregas, está pronta para ser o parceiro estratégico ideal para restaurantes que desejam se destacar nesse cenário competitivo, oferecendo soluções que otimizarão operações e garantirão a máxima eficiência no delivery.
