Meituan no Brasil? O que a gigante chinesa pode mudar no delivery nacional

O mercado de delivery brasileiro está prestes a ganhar um novo e poderoso Player: a Meituan, maior plataforma de entregas do mundo. Com chances de iniciar operações no Brasil até 2026, a gigante chinesa — conhecida por seu super app, eficiência logística e uso avançado de inteligência artificial — pode reconfigurar o ecossistema nacional, desafiando a hegemonia do iFood e acelerando a transformação digital no setor. Este artigo analisa os impactos dessa possível entrada, os aprendizados da expansão internacional da Meituan e o que isso significa para restaurantes, operadores logísticos e soluções como a Pick n Go.

1. Brasil: oportunidade estratégica no radar da Meituan

O Brasil já está entre os maiores mercados de delivery do mundo, com mais de 210 milhões de pedidos mensais e uma movimentação que ultrapassa os R$ 8 bilhões por mês. Dentro desse ecossistema dinâmico, o segmento de food delivery se destaca não apenas pelo volume, mas também pela sofisticação dos modelos logísticos e tecnológicos em operação. 

Nesse cenário, o iFood ocupa uma posição de liderança incontestável, com atuação nacional, presença consolidada em milhares de cidades e capacidade de atender com escala e eficiência em diferentes regiões e perfis de consumo. A marca é responsável por cerca de 100 milhões de pedidos mensais, e seu market share é frequentemente estimado em mais de 80% quando consideramos o universo dos aplicativos de entrega, onde a empresa mantém protagonismo em alcance, tecnologia e volume transacionado. Isso porque, embora existam outros canais ativos — como pedidos via WhatsApp, telefone e plataformas independentes — o iFood continua sendo a referência principal no setor, tendo desempenhado um papel fundamental na construção da cultura de delivery no país..

É justamente esse grau de maturidade — com alta penetração, um líder estabelecido e margens significativas — que atrai o interesse da Meituan. Segundo rumores do mercado, a empresa já estuda sua entrada desde 2020. 

2. Expansão global como ensaio para o Brasil

Antes de mirar o Brasil, a Meituan usou Hong Kong e Arábia Saudita como laboratórios. Em Hong Kong, o app KeeTa foi lançado com foco agressivo em performance e promoções, o que levou à saída da Deliveroo em menos de dois anos. Na Arábia Saudita, em menos de doze meses, a Meituan já se posiciona como líder, com ambição declarada de atingir 80% do mercado até o final de 2025.

O modelo de expansão da Meituan segue um padrão: entrada em mercados com um player dominante e alto potencial de crescimento, acompanhada por investimentos intensivos em logística, promoções e tecnologia.

Além disso, a operação internacional é liderada por Tony Qiu, ex-Didi na América Latina, profundo conhecedor do mercado brasileiro. Isso reforça a expectativa de que a entrada no Brasil será bem planejada, respeitando as particularidades locais — e não uma mera cópia do modelo chinês.

3. Por que a Meituan é diferente?

A Meituan opera com uma estrutura altamente verticalizada, controlando app, roteirização, logística e suporte. Seu grande diferencial está na integração entre dados e operação, com uso intensivo de inteligência artificial para previsão de demanda, alocação de entregadores e redução de tempo médio de entrega — em muitos casos, abaixo dos 30 minutos.

Outro pilar estratégico é a diversificação de receita: na China, a Meituan monetiza comissões, publicidade, clubes de assinatura, e experiências patrocinadas. Essa lógica de múltiplas fontes de receita pode ser replicada no Brasil, forçando uma revisão dos modelos atuais de monetização centrados unicamente em taxa por pedido.

Mais recentemente, a Meituan também expandiu o uso de drones e robôs autônomos para delivery em rotas urbanas. Ainda que o Brasil tenha desafios regulatórios nesse sentido, a presença de uma empresa com esse nível de inovação tende a acelerar discussões locais sobre automação no setor.

4. Impactos diretos para o iFood e concorrência

A entrada da Meituan representa o primeiro desafio real à liderança do iFood desde sua consolidação. Embora o app brasileiro tenha se expandido para além do food (benefícios, crédito, banco digital), sua base de operação ainda depende fortemente de um modelo transacional com margem apertada para restaurantes e pressão sobre entregadores.

A concorrência com a Meituan pode trazer:

  • Redução de taxas por pressão competitiva (apesar de pouco provável)
  • Mais promoções e incentivos cruzados
  • Necessidade de acelerar investimentos em IA e UX
  • Abertura para novos formatos de parceria com restaurantes e operadores

Apps como Rappi e Aiqfome também precisarão reposicionar suas propostas de valor. A tendência é um mercado menos concentrado, mas mais exigente em termos de serviço, fidelização e eficiência operacional.

5. Restaurantes ganham com mais opções — e desafios

Para os restaurantes, a chegada da Meituan significa mais opções de canal, maior poder de negociação e possibilidades de operar multicanal com menos dependência de um único app. Desde 2023, o CADE já restringe contratos de exclusividade, o que dá aos estabelecimentos mais liberdade para escolher onde e como vender.

Porém, mais canais também significam mais complexidade: gerir menus em diferentes plataformas, alinhar estoques, integrar pedidos, acompanhar promoções e consolidar dados financeiros. Isso exige infraestrutura tecnológica e inteligência operacional — dois pontos que serão diferenciais para quem quiser crescer com segurança.

Além disso, a guerra por entregadores (com diferentes modelos de remuneração e vínculo) pode afetar a qualidade logística, especialmente para quem usa frota própria ou empresas terceirizadas. A escolha de bons parceiros de gestão logística será crítica para manter performance e reputação.

6. O papel estratégico da Pick n Go

Nesse cenário mais competitivo e descentralizado, o modelo da Pick n Go se torna ainda mais relevante. Ao oferecer tecnologia white-label para gestão de entregas, roteirização, tracking e integração com canais próprios de venda, a empresa ajuda restaurantes e operadores logísticos a ganhar autonomia e eficiência.

Com a entrada da Meituan, o setor tende a se mover em duas direções: de um lado, marketplaces disputando volume com margens apertadas; do outro, marcas buscando independência e controle sobre a experiência do cliente. A Pick n Go se posiciona como parceira ideal para esse segundo movimento, capacitando marcas a venderem mais, com mais margem e menos dependência.

Além disso, operadores logísticos regionais e empresas de entregador que hoje atendem apenas um ou dois apps podem usar a infraestrutura da Pick para prestar serviços a múltiplos canais — incluindo apps próprios dos restaurantes ou marketplaces de nicho. O futuro é multicanal, e quem tiver estrutura para isso terá vantagem.

7. Conclusão: mais competição, mais oportunidade

A Meituan ainda não desembarcou oficialmente no Brasil, mas seu impacto já é sentido. Mais do que uma ameaça ao iFood, sua presença é um acelerador da evolução do mercado. Para os restaurantes, é o momento ideal de rever a dependência de poucos canais e investir em autonomia. Para operadores logísticos, abre-se uma nova frente de serviços. E para empresas como a Pick n Go, que constroem tecnologia de base para esse novo ecossistema, é o tempo de consolidar sua relevância como parceira estratégica da transformação.

A nova fase do delivery brasileiro não será definida apenas por quem vende mais, mas por quem entrega melhor, gerencia com mais inteligência e constrói relações mais sustentáveis com clientes, entregadores e parceiros.